A Depressão Major é um quadro psiquiátrico caracterizado por humor deprimido e/ou perda de interesse ou prazer em diversas atividades, que se prolonga por períodos de tempo iguais ou superiores a duas semanas. Outros sintomas podem estar associados, nomeadamente alterações do sono, apetite, energia, concentração, sentimentos de inutilidade, pensamentos acerca da morte. O diagnóstico da Depressão Major é realizado com base na observação e história clínica do doente, excluindo outras causas e o tratamento é individualizado e de acordo com as características do doente, com recurso a fármacos antidepressivos e/ou psicoterapia.
Apesar de um seguimento e terapêutica adequados, uma percentagem significativa de doentes evoluiu para formas resistentes ao tratamento, designando-se Depressão Major Resistente ao Tratamento.
A resistência ao tratamento é definida pela ausência de melhoras após dois tratamentos com antidepressivos, podendo ser da mesma classe de fármacos ou de diferentes, prescritos em doses adequadas, por um período adequado e com adesão por parte do doente. Estima-se que a prevalência global da Depressão Major ronde os 10-15%, sendo que mais de um terço dos doentes tratados evoluiu para Depressão Resistente ao Tratamento.
Os tratamentos antidepressivos orais atuais apresentam taxas de resposta terapêutica de aproximadamente 50% para a Depressão Major e de 17% para a Depressão Resistente ao Tratamento, estando aquém dos resultados que seriam idealizados para os doentes com depressão resistente.
Para além deste facto, uma das grandes limitações dos antidepressivos habituais é o início de ação tardio, podendo levar semanas ou meses para surtir efeito, e assim aumentar a morbilidade e reduzir a qualidade de vida dos doentes.
Para estes doentes temos sempre a opção da Eletroconvulsivoterapia (ECT), uma técnica praticamente centenária que apresenta bons resultados, mas, tratando-se de uma técnica invasiva, exige maiores recursos técnicos e apresenta menor eficácia a longo prazo.
Com a aprovação da Escetamina, passa a existir um fármaco com indicação clara na Depressão Resistente ao Tratamento, colmatando uma lacuna terapêutica nesta patologia. O início de ação rápido, a fácil aplicação sob forma de pulverização nasal, os efeitos secundários toleráveis e, acima de tudo, a eficácia tornam este fármaco de aplicação exclusivamente hospitalar numa ferramenta muito promissora e cujos resultados prometem revolucionar a nossa prática clínica.
A Psiquiatria adere, assim, às terapêuticas inovadoras e a nossa instituição encontra-se pronta para dar resposta aos doentes com Depressão Resistente ao Tratamento.