Socialmente, falamos abertamente de diversas doenças sem qualquer pudor (como os enfartes cardíacos, AVC, doenças ortopédicas…), mas quando se trata de doenças da região anal, temos vergonha em falar, até mesmo com os nossos familiares mais próximos.
As doenças que ocorrem na região do ânus são das doenças que mais incapacitam e que retiram qualidade de vida. Quem já teve uma fissura anal sabe bem o sofrimento que se sente por antecipação da ida ao WC e as dores que sente durante e após defecar.
As doenças que ocorrem na região anal são agrupadas numa área de conhecimento médico designada de proctologia e o médico que as trata é reconhecido como proctologista. Este médico habitualmente é especialista em Cirurgia Geral ou Gastrenterologia. As doenças benignas da região anal mais comuns são as hemorroidas, abcessos/fístulas, fissuras anais e prurido anal. Mais raramente podem aparecer condilomas, incontinência anal e prolapso retal. Os doentes que apresentam alguma destas patologias referem perda de sangue nas fezes ou no papel higiénico (habitualmente de cor vermelho vivo), dor ao defecar, prurido ou ardência perianal, sensação de exteriorização de algo que vem do interior do ânus, humidade excessiva, dificuldade em defecar ou mesmo algum grau de incontinência.
Na consulta é importante perceber o tipo de sintomas que o doente apresenta e o início e evolução das queixas. É muito importante a observação da região anal e em algumas situações pode ser necessário realizar um toque retal.
Na maioria das vezes a descrição das queixas do doente e a observação da região anal permitem chegar ao diagnóstico e definir o tratamento adequado.
Normalmente, os doentes recorrem à consulta após diversas tentativas de tratamento falhadas com “pomadas para as hemorroidas”. É correto a tentativa inicial de tratamento com comprimidos/pomadas, no entanto, este tratamento deve ser prescrito por um médico após observação da região anal e nunca deve ser iniciado por recomendação de “um amigo que tomou e resultou”. Para além da medicação, é importante uma alimentação rica em fibras e a ingestão de 1,5 litros de água por dia, para que as fezes não sejam duras. Os banhos de assento também são recomendados na maioria das situações. Quando o tratamento conservador não resolve, pode ser necessário um tratamento cirúrgico. Existe o estigma de que as cirurgias à região anal são muito dolorosas e incapacitantes. Apesar de algumas cirurgias deixarem uma ferida na região anal que causa dor no pós-operatório, a intensidade e duração dessa mesma dor são muito variáveis de pessoa para pessoa. Para além disso, atualmente, existem técnicas inovadoras no tratamento da patologia anal, como, por exemplo, a aplicação de laser nas hemorroides ou fístulas, que vieram facilitar a recuperação pós-operatória.
Se tem alguma das queixas ou patologias descritas, procure ajuda especializada. O tratamento precoce e correto evita o sofrimento prolongado e desnecessário.