E se eu vos disser que ansiedade e medo, embora estejam relacionados, são dois estados diferentes? É verdade que a diferença entre ambos é muito subtil, mas existe.
No exercício da minha profissão, tenho vindo a aperceber-me de que as perturbações de ansiedade são cada vez mais recorrentes. Estatisticamente, Portugal é dos países, a nível mundial, com maior prevalência de perturbações mentais e de ansiedade (DGS – 2014).
A meu ver, não poderia falar de ansiedade sem fazer alusão ao medo. Medo é um estado emocional que surge como resposta à consciência perante uma situação de eventual perigo. A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações que caraterizam o medo.
Muitas das vezes o medo também pode ser provocado por razões sem fundamento ou lógica racional e estar relacionado até com crenças de cada ser humano.
Normalmente, para surgir o medo é necessária a presença de um estímulo que provoque ansiedade e insegurança no indivíduo. Porém, em determinadas situações, o medo pode desencadear-se apenas a partir da ideia em relação a algo que seja desagradável.
Então, e o que é a ansiedade?
É um sistema de resposta cognitiva, afetiva, fisiológica e comportamental, complexo que é ativado quando eventos ou circunstâncias antecipados são considerados altamente aversivos, porque são percebidos como eventos imprevisíveis, incontroláveis, que poderiam potencialmente ameaçar os interesses vitais de um individuo. É uma reação emocional que traz benefícios em determinadas situações. Contudo, se for muito frequente e desproporcional, acarreta malefícios, e deste modo é importante perceber se estamos a falar de uma ansiedade normativa ou patológica.
Posto isto, na ansiedade normativa existe uma reação esperada para determinada situação. É uma reação a um estímulo que o cérebro interpreta como ameaçador ou perigoso e é também uma forma de adaptação e de preparação para determinadas situações. Por outro lado, a ansiedade patológica resulta numa reação emocional desajustada, que está presente mesmo quando não existe um estímulo ameaçador e que vai gerar sofrimento e desgaste emocional.
Sentir medo e ansiedade são reações necessárias para a sobrevivência do indivíduo, mas sentir em grandes quantidades pode ser prejudicial. E por este mesmo motivo os profissionais de saúde detêm algumas técnicas e estratégias que podem ajudar na gestão do medo e da ansiedade.
Principais sintomas que indicam que pode sofrer de ansiedade
Para além de percebermos o que é a ansiedade, é também necessário sabermos alguns dos sintomas e fatores que transformam o simples “nervosismo” em transtorno. A ansiedade pode desenvolver-se de forma subtil ou bruscamente e ter impactos desgastantes no indivíduo. Existem alguns sintomas da ansiedade, que podem variar de pessoa para pessoa:
• Dormir poucas horas por dia ou ter hábitos noturnos;
• Reprimir sentimentos como angústia ou tristeza;
• Fazer uso excessivo de redes sociais;
• Preocupação excessiva;
• Pensar frequentemente no futuro;
• Isolar-se da vida social.
Contamos ainda com alguns sinais físicos, como:
• Dores de cabeça;
• Aumento ou perda de peso;
• Queda de cabelo;
• Cansaço;
• Diarreia;
• Falta de ar.
Referências Bibliográficas:
• Clark, A. & Beck, T. (2012). Terapia Cognitiva para Transtornos de Ansiedade – guia do terapeuta. Trad. Maria Cristina Monteiro. Porto Alegre: Artmed.
• Correia, D. & Brites, J. (2020). Guia Prático para Vencer a Ansiedade. (1.ª ed.). Lisboa: Bertrand editora.
• American Pyschiatric Association (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V (5 ed). Porto Alegre: Artmed.