É muito comum vermos num estudante universitário o apogeu do seu desenvolvimento intelectual e associarmos a vida académica a tempos de boémia e diversão plena. No entanto, esta representação social não tem adesão completa à realidade, podendo essa vida estar carregada de angústias e frustrações, uma vez expressas de forma explícita pelo(a) estudante e outras de forma mais camuflada.
A deslocação de muitos(as) alunos(as) para os locais de estudo, abandonando por tempos dilatados a família de origem, pode conduzir a quadros depressivos e ansiosos pelo desenraizamento que tal deslocação comporta, refletindo-se no rendimento académico. Acresce a tudo isto a pandemia de COVID-19 que hoje vivemos e as mudanças que isso tem acarretado ao nível da restrição dos contactos presenciais entre os diferentes agentes educativos, com consequências ao nível do bem-estar do estudante e do seu equilíbrio no interior dos contextos universitários.
Mas há situações na Academia dos dias de hoje que são suscetíveis de uma análise mais transversal e que englobam vários atores da Universidade, nomeadamente: professores e investigadores. O contexto académico carateriza-se, atualmente, pela elevada competitividade, convertendo a competição saudável numa verdadeira luta pelos financiamentos, que, por sua vez, são aplicados em função de indicadores de desempenho académico de cada docente ou investigador, e dentro disto assume um papel crucial o número de artigos científicos publicados em revistas nacionais ou internacionais com arbitragem por pares.
As consequências psicológicas destes contextos hipercompetitivos são evidentes: sofrimento psicológico no pessoal docente e, nalguns casos, podemos falar mesmo de quadros de ansiedade e depressão. Perante este cenário, torna-se por vezes difícil desligar do trabalho, sacrificando os períodos de ócio e lazer, tão fundamentais para o equilíbrio psíquico.
A terapia psicológica pode ajudar na escuta e alívio deste sofrimento, muitas vezes camuflado por uma ética do “bom aluno” ou do “bom docente/investigador”. Essa escuta pode revelar-se fundamental para o incremento do bem-estar, na medida em que se identificam e potenciam os recursos necessários para a gestão equilibrada dos tempos de trabalho e de lazer. Convém que nunca percamos de vista a ideia de que a saúde mental anda de mãos dadas com o equilíbrio psicossocial nos diferentes contextos onde nos desenvolvemos.