Inicio este artigo por um chavão, muitas vezes difundido e nem sempre entendido: “A criança não é um adulto em miniatura”. Todos nós, pais, professores, profissionais de saúde, devemos ter a consciência do significado desta frase. A criança é um ser em desenvolvimento com emoções, sentimentos e vontade própria.
Uma das razões da procura, em idade precoce, da consulta da Psiquiatria da Infância e Adolescência deve-se à existência de desequilíbrios emocionais provocados por alterações internas inerentes à criança, por perturbações no meio familiar ou escolar.
O conhecimento científico descreve vários tipos de ansiedade, tais como: ansiedade de separação, ansiedade generalizada e ansiedade social.
A primeira está relacionada com a dificuldade que manifestam em separar-se dos pais e em sair da sua zona de conforto, nomeadamente para o ambiente escolar. Desenvolvem vários tipos de somatizações, tais como dores abdominais, cefaleias, vómitos, dificuldades no sono e um eventual baixo desempenho escolar. São situações que infligem um grande sofrimento e englobam também o medo de que algo aconteça aos pais.
A ansiedade generalizada surge em crianças que parece estarem sempre em tensão, com medo de tudo e de todos, e os pais, por mais esforços que envidem no sentido de racionalizar as situações geradoras dessa ansiedade, não a conseguem mitigar.
A ansiedade social traduz-se na incapacidade que as crianças apresentam em “enfrentar“ pessoas externas ao seu grupo familiar restrito e que pode evoluir para uma fobia social.
Já a ansiedade patológica nas crianças é um entrave ao seu bem-estar emocional a nível escolar, familiar e social. Transforma-se numa preocupação excessiva, que impede o êxito escolar, não obstante possuírem aptidões para tal, não conseguindo manter interações positivas com os seus pares. O facto de serem normalmente crianças inibidas, introvertidas, que participam pouco nas brincadeiras com os colegas torna-as, não raras vezes, alvos fáceis de “bullying”, o que agudiza o estado ansioso que permanentemente as assola.
Não será de mais reforçar que distúrbios comportamentais como medos exagerados, absentismo escolar, fuga à participação em contexto de sala de aula, dores abdominais, choro frequente, dificuldade em dormir, resistência em sair de casa são sinais de alarme que carecem de atenção.
Perante quadros destes, os pais deverão recorrer a especialistas, psiquiatras da infância ou psicólogos, que, com técnicas adequadas, permitirão à criança verbalizar os seus problemas, identificando a patologia e as suas causas. Aferido o diagnóstico, os tratamentos com recurso a psicoterapia e/ou terapias farmacológicas evidenciam ganhos inequívocos no tratamento da ansiedade.
É crucial não desvalorizar estes diagnósticos, sob pena de comprometermos o desempenho social, familiar e académico da criança, com sérios riscos de se perpetuarem na sua vida adulta.