Atualmente, na prática psicoterapêutica, os pedidos de ajuda chegam das mais diversas formas e com uma multiplicidade de queixas. Se, umas vezes, a origem dos sintomas apresentados é clara, na maioria delas o sofrimento é incompreensível para a própria pessoa e podendo apresentar-se de forma camuflada (quer como problemas do foro físico – sintomas respiratórios, dermatológicos ou cardíacos, entre outros –, quer como problemas do foro emocional, sem motivo aparente – sentimentos de angústia, mal-estar, incapacidade ou tristeza, ansiedade ou insónia, por exemplo).
Todos estes sintomas transmitem e ocultam, em simultâneo, uma angústia que precisa ser entendida, contida e transformada. Por vezes, não são os acontecimentos que são perturbadores: o olhar sobre eles, entrando em contacto com o que eles causaram e determinaram, é que desperta o sofrimento. E a este sofrimento acresce a solidão de não conseguirmos deixar de sentir o que sentimos sem que alguém o entenda e descodifique.
A possibilidade de partilhar a dor e o sofrimento com alguém que lhes dê um significado, enquanto pensa connosco, é aliviador e reparador. Esse alguém é o psicoterapeuta, que faz com que todos os pedaços partidos possam caber dentro de nós, que tenham um lugar e que todos os outros pedaços possam ser reciclados e reajustados.
Porque reagi desta forma nesta situação? Porque me senti magoado quando me disseram aquilo? Porque não me sinto capaz? Porque não consigo tolerar esta situação? Porque não consigo manter relações amorosas saudáveis? Porque não consigo manter um emprego? Não tenho motivos para sentir esta tristeza!
Todas estas questões e outras tantas semelhantes surgem na prática clínica e denotam uma incompreensão e sofrimento intoleráveis.
Nós somos o conjunto das nossas vivências e experiências emocionais que determinam a forma como vemos o mundo e como reagimos a ele e que, por vezes, nos fazem adoecer.
Consideremos o seguinte exemplo: uma pessoa que esteja constantemente a fazer escolhas amorosas desajustadas deverá questionar-se sobre o motivo oculto pelo qual faz essas mesmas escolhas e com isso perceber o próprio funcionamento. Poderá tratar-se de alguém que não reconhecendo o seu próprio valor se entregue a relações desvalorizantes, tal e qual como a relação que estabelece consigo mesmo (de desvalorização).
A psicoterapia é um método de tratamento psicológico que, promovendo o autoconhecimento, tem por objetivo o alívio do sofrimento psíquico e o equilíbrio emocional. Trata-se de ajudar a utilizar ou criar recursos para lidar com as contingências e dissabores com que a vida por vezes nos “presenteia” e que, muitas vezes, têm um impacto traumático.
Dentro das diferentes abordagens psicoterapêuticas, a psicoterapia psicanalítica é a cura através da palavra. É um caminho a dois (indivíduo/psicoterapeuta) no qual o psicoterapeuta tem a função de ajudar a pensar as emoções, a suportar o sofrimento, potenciando assim uma nova narrativa sobre si e sobre a sua história de vida. Este caminho contempla um maior conhecimento de si próprio e a descoberta das zonas mais iluminadas e sombrias da mente.
“Eu sou a minha história que reconstruí junto de alguém” (Sigmund Freud, 1930).