“O seguimento da obesidade infantil na consulta de nutrição está associado a uma enorme taxa de sucesso, dadas as características particulares do metabolismo da criança. Contudo, a dificuldade está, precisamente, na exigência da mudança de hábitos e de comportamentos, muitas vezes já enraizados na família.”
Em Portugal, cerca de 30% das nossas crianças em idade pediátrica apresentam excesso de peso ou obesidade. A ocorrência da obesidade infantil apresenta um forte poder preditivo da sua prevalência na idade adulta, sobretudo quando esta persiste durante a adolescência.
Por outro lado, os encarregados de educação são o modelo que as crianças tendem a imitar, havendo uma forte associação entre a obesidade da criança e a obesidade dos progenitores. A prevenção da obesidade infantil exige, por isso, uma grande participação e articulação entre a família e as creches ou escolas, assentes na modificação comportamental e no fomento de hábitos saudáveis, como, por exemplo:
- realizar, sempre que possível, as refeições em família com a vigilância da mesma no que respeita às porções e à qualidade das refeições;
- oferecer sempre, no início das principais refeições, um bom prato de sopa, de forma a facilitar a ingestão diária de
vegetais, legumes e leguminosas, não esquecendo a presença destes alimentos também no prato da criança; - incluir 2 a 3 peças de fruta, preferencialmente da época, ao longo do dia, nas diferentes refeições;
- garantir o consumo de leite e derivados, como iogurtes e queijos;
- estimular o consumo de água, como bebida de eleição;
- incentivar a prática diária de atividade física de intensidade moderada, nomeadamente a prática de um desporto e limitar o tempo em frente a um ecrã (televisão, telemóvel, tablet, computador ou jogos) a 1-2 horas/dia;
- evitar snacks ou aperitivos muito calóricos, ricos em gorduras saturadas e açúcares livres entre refeições;
- limitar o consumo de guloseimas, doces, sumos e refrigerantes apenas a ocasiões especiais, pois, além de promover o excesso de peso, aumenta a probabilidade de a criança desenvolver doenças hepáticas e cáries dentárias.
Efetivamente, a alimentação na infância tem um papel determinante no crescimento e desenvolvimento da criança, sendo neste período que se moldam gostos, preferências e hábitos alimentares que contribuirão para um bom desenvolvimento e que se manterão na idade adulta.
O seguimento da obesidade infantil na consulta de nutrição está associado a uma enorme taxa de sucesso, dadas as características particulares do metabolismo da criança. Contudo, a dificuldade está, precisamente, na exigência da mudança de hábitos e de comportamentos, muitas vezes já enraizados na família.
Por conseguinte e de forma a sustentar uma maior adesão ao tratamento e à prevenção da doença, o nutricionista dispõe de ferramentas de apoio fundamentais à mudança destes hábitos mais prejudiciais e define estratégias alimentares específicas e adaptadas ao ambiente familiar e social onde a criança está inserida.