O Bullying é um dos temas associados à infância e adolescência mais relevantes, e cuja abordagem e sensibilização mais importa fazer, no quotidiano parental, dado o impacto psicológico grave que pode trazer ao desenvolvimento emocional da criança, ou do adolescente.
Antes de mais, é fundamental esclarecer o conceito de Bullying. O Bullying consiste num comportamento intencionalmente agressivo (físico, ou verbal), de exclusão, ou humilhante, realizado por uma criança/adolescente (ou grupo), sobre outra criança/adolescente. É um comportamento que se repete e que tem na sua base uma intenção de poder, exercido pelo agressor (poder esse que, muitas vezes, é utilizado para influenciar outros membros do grupo), para prejudicar e controlar a outra criança/adolescente. Pode assumir diferentes formas, como, por exemplo,o cyberbullying (via online) e o bullying homofóbico. Inclui não só o bater, chamar nomes, excluir do grupo de pares, como também, espalhar boatos; influenciar os outros para não serem amigos da criança/adolescente em referência; excluí-lo(a) dos grupos de conversação da turma, nas redes sociais; enviar mensagens de desdém, ou influenciar outros para o fazerem; fazer comentários maldosos nas redes sociais.
Qual pode ser, então, o papel dos pais?
- Investir junto da criança, logo desde a idade pré-escolar, numa comunicação saudável, que promova confiança e escuta ativa, demonstrando interesse em ouvi-la sobre o seu quotidiano, sobre as suas motivações, e sobre as suas emoções principais, relativas ao contexto escolar e aos colegas, com quem, habitualmente, brinca.
- Desde cedo, também, introduzir, no diálogo com a criança, o conceito de Bullying, distinguindo-o dos conflitos interpessoais habituais, na construção das relações sociais, e incentivando a criança a relatar, junto de um adulto em quem confie, se vivenciar uma situação de Bullying, ou se constatar que um colega a vivencia.
- Estar atento a alterações no comportamento habitual da criança/adolescente, que podem ocorrer no contexto de outras problemáticas, mas que, em situações de vivência de Bullying também: maior isolamento em casa; ansiedade na ida para a escola (pode incluir somatizações como dores de barriga, cefaleias,etc); auto-verbalizações depreciativas face a si mesmo; alterações do sono; maior tristeza e desmotivação face ao contexto escolar; verbalizar não ter amigos; expressões de angústia, quando está no telemóvel; pedir mais dinheiro do que o habitual.
- Perante a constatação de uma situação de Bullying, os pais devem demonstrar empatia e apoio face à criança/adolescente, elogiando o facto de ter relatado a situação e transmitir-lhe que não está sozinha(o), e que estarão a seu lado na resolução da mesma.
- Não devem ser utilizadas frases como “Isso no meu tempo também era assim, faz parte.”, “Então, não te sabes defender?”, “Ignora isso, não ligues!”.
- A situação deve ser prontamente sinalizada junto do(a) Diretor de Turma e da escola, não no sentido acusatório, mas sim no sentido de pedido de colaboração e disponibilização de ajuda, sempre que a criança/adolescente precise.
- Incentivar a criança a participar noutras atividades, fora da escola, com diferentes grupos de pares, onde possa desenvolver o seu auto-conceito e expandir as suas relações interpessoais.
Os pais deverão estar atentos, também, à situação contrária, isto é, como perceber se o filho pode estar a realizar comportamentos de Bullying a outro(s) colega(s), pois, neste caso, esta criança/adolescente também necessitará de ajuda e monitorização. As crianças agressoras podem apresentar determinados comportamentos e/ou traços de personalidade, aos quais os pais devem estar atentos: apresentam um padrão de desafio à autoridade frequente, inclusivamente face aos pais e professores; têm dificuldade em obedecer a regras, e em lidar com a frustração; apresentam grande tendência para dominar os outros; frequentemente sobrevalorizam-se e mentem.