Apesar de ser uma entidade rara, o cancro da tiroide constitui a neoplasia endócrina maligna mais frequente.
Este pode originar-se de três tipos celulares diferentes: das células foliculares da tiroide, das células parafoliculares da tiroide ou de células não tiroideias.
As células foliculares, produtoras de hormonas tiroideias, são as responsáveis pela grande maioria dos cancros da tiroide e podem originar carcinomas bem diferenciados (mais de 90% dos casos), dos quais podemos destacar o carcinoma papilar e o carcinoma folicular, ou carcinomas indiferenciados ou anaplásicos, muito menos frequentes.
Das células parafoliculares, produtoras de calcitonina, podem surgir os carcinomas medulares, que representam cerca de 3 a 4% dos casos de cancro da tiroide. Estes podem ser esporádicos (75 a 80% dos casos) ou hereditários/familiares.
Por fim, podem ainda surgir na tiroide tumores malignos com origem em células não tiroideias (menos de 5% do total), como sarcomas ou linfomas, ou ainda metástases de outros tumores.
A idade média ao diagnóstico de cancro da tiroide é de 45-50 anos e os carcinomas papilares e foliculares são diagnosticados cerca de 2 a 4 vezes mais frequentemente em mulheres do que em homens. A apresentação mais frequente destes tumores é a deteção incidental de pequenos nódulos em exames de imagem da cabeça e pescoço. No entanto, também se pode apresentar como um nódulo palpável na tiroide, firme, com crescimento progressivo, com ou sem gânglios linfáticos aumentados e palpáveis no pescoço.
A ecografia é o melhor método de imagem para avaliar os nódulos da tiroide e existem várias características ecográficas que aumentam o grau de suspeição de lesão maligna, como por exemplo, margens irregulares e presença de microcalcificações.
Após a caracterização por ecografia, as lesões suspeitas de cancro da tiroide devem ser submetidas a uma citologia aspirativa. Trata-se de um procedimento simples, realizado em regime de ambulatório, caracterizado pela aspiração eco guiada de células do nódulo. O resultado deste exame pode indicar o risco/probabilidade de cancro da tiroide e é fundamental para planear o tratamento inicial, que é maioritariamente cirúrgico. As características ecográficas, presença de gânglios linfáticos cervicais suspeitos e o resultado da citologia irão definir o plano cirúrgico: tiroidectomia total ou hemitiroidectomia e a necessidade de remover os gânglios linfáticos de zonas específicas do pescoço.
Após a cirurgia, a peça removida é analisada e, de acordo com os achados histológicos, é realizado o estadiamento do tumor e é avaliado o risco de recorrência da doença (baixo, intermédio ou alto). Tendo por base esta classificação, os doentes com carcinomas diferenciados poderão ou não ter necessidade de prosseguir o tratamento com iodo radioativo (Iodo-131), para a destruição de pequenos restos celulares tiroideus e, assim, diminuir a probabilidade de recorrência de doença. A administração de Iodo-131 é uma terapêutica seletiva para células foliculares da tiroide (presentes no local da tiroide, em gânglios linfáticos afetados ou noutras localizações), pelo que poupa os tecidos/ órgãos não afetados pela doença.
Após a cirurgia, torna-se necessário realizar suplementação com levotiroxina, para reposição das hormonas tiroideias e manutenção dos valores de TSH (hormona que comanda a produção de hormonas tiroideias) em níveis adequados.
Embora os doentes com história de cancro da tiroide exijam uma vigilância clínica, analítica (análises de sangue), e por vezes imagiológica (ecografia), anual, a maioria apresenta uma evolução favorável e um prognóstico excelente. Por exemplo, para o carcinoma papilar da tiroide, o mais frequente, não metastizado, a taxa de sobrevivência após 5 anos de doença é de quase 100%.