A hipertensão arterial afeta cerca de um bilião de pessoas em todo mundo e é o principal fator de risco para doenças graves e potencialmente fatais como Enfarte agudo do miocárdio e Acidente vascular cerebral (AVC). O bom controlo das tensões arteriais é uma das medidas mais eficazes para prevençao destas doenças, no entanto sabe-se que cerca de 10-30% dos hipertensos não se encontram controlados apesar da otimização da medicação anti-hipertensora.
Uma das causas que pode estar na base desse insuficiente controlo é a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono. Ao longo deste artigo será explorada a relação entre ambas as doenças e destacada a importância do diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono nos doentes hipertensos, sobretudo nos casos de hipertensão resistente.
A estreita relação entre Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e Hipertensão arterial
Estima-se que 37 a 56% dos doentes com hipertensão arterial tenham Apneia Obstrutiva do Sono. A Síndrome de apneia obstrutiva do sono é uma doença caracterizada por paragens respiratórias repetidas durante o sono, durante as quais há redução dos níveis de oxigénio no sangue, o que provoca sobrecarga e dano ao sistema cardiovascular.
A apneia obstrutiva do sono tem um papel ativo nos próprios mecanismos da hipertensão arterial. As paragens respiratórias durante o sono (apneias) provocam uma elevação das tensões arteriais mesmo em doentes medicados, o que pode prejudicar o controlo da doença. Essa elevação noturna dos valores de tensão arterial associa-se muitas vezes ao chamado padrão “não-dipper” no estudo de tensões arteriais (MAPA) em 24 horas, o qual se associa a maior risco de eventos cardiovasculares.
Os estudos demonstram que cerca de 80% dos doentes com hipertensão resistente (definida como a persistência de valores aumentados de tensão arterial apesar do tratamento com 3 ou mais classes de anti-hipertensores) têm síndrome de apneia obstrutiva do sono. Sabe-se ainda que o risco de mau controle das tensões arteriais é tanto maior quanto maior a gravidade da apneia.
O tratamento da Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) em doentes com hipertensão arterial
O tratamento da síndrome de apneia obstrutiva do sono está associado a reduções ligeiras, mas significativas nos valores de tensão arterial, sobretudo nos casos de hipertensão resistente.
Para além da melhoria do controle das tensões arteriais e potencial de proteção cardíaca e cerebrovascular, o tratamento da síndrome de apneia obstrutiva do sono também está relacionado com uma grande melhoria da qualidade de vida e um sono mais reparador e satisfatório.
Conclusões
A hipertensão arterial é a causa de morte modificável mais comum a nível mundial, no entanto alguns casos permanecem não controlados apesar da medicação.
A Síndrome de apneia obstrutiva do sono é uma doença frequente nesta população. Quando não diagnosticada e tratada, esta pode causar elevações adicionais na tensão arterial, quer no período noturno quer durante o dia.
Em casos de hipertensão arterial não controlada apesar da medicação, sobretudo na presença de um padrão não-dipper no estudo MAPA de 24h, estar atento ao sono é de crucial importância. O diagnóstico de apneia obstrutiva do sono por polissonografia e o respetivo tratamento, quando indicado, pode melhorar o controle das tensões arterais e reduzir significativamente o risco de eventos cardiovasculares futuros.