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Litíase renal: pedra dos rins

publicado em 10 Mar. 2023

A litíase renal é melhor conhecida como “pedra do rim”. Estas pedras resultam da agregação de sais e minerais, e da qual surgem cristais. Estes cristais podem crescer até dimensões consideráveis e têm constituições diversas, sendo o cálcio o elemento mais preponderante.

 

Estima-se que o risco de se desenvolver uma pedra do rim ao longo da vida seja de 5 a 10%. Apesar da elevada incidência, apenas uma parte dos doentes apresentam sintomas.

Que queixas podem provocar estas pedras do rim?

A situação clínica mais exuberante é a cólica renal. Esta ocorre quando uma pedra se desloca e impede a saída de urina do rim. O resultado é uma dor de início súbito, muito forte, que começa nas costas, pouco abaixo das costelas, e que se pode estender até à região genital.

 

Ao contrário da dor associada a problemas da coluna, a cólica renal não alivia em nenhuma posição. Esta dor, frequentemente, é acompanhada de enjoos e vómito.

 

Quem já passou por esta situação não se esquece!

 

Na maioria das situações é necessário recorrer a um serviço de urgência, para a realização de exames de diagnóstico e medicação, para o alívio da dor. Se toda esta situação for acompanhada de febre, então passamos a estar perante uma emergência, que requer intervenção urgente.

 

Mas não é só a cólica renal que torna a existência de pedra do rim um problema sério. Em algumas circunstâncias, a presença e o crescimento de pedras dos rins pode resultar num deficiente funcionamento dos mesmos e infeções repetidas.

E como se tratam as Litíase renal (pedras do rim) ?

Para responder a esta questão, é necessário distinguir o tratamento do doente que está com cólica renal, do doente que não tem sintomas.

 

Tratamento da cólica renal

 

Tendo em conta as queixas associadas à cólica renal, a necessidade de tratar, e resolver este problema, é obvia. Dependendo de vários fatores, como a localização e tamanho da pedra, o tratamento pode passar apenas por medicação. Mas há situações em que é necessária a realização de intervenção cirúrgica.

 

Mas respondendo à questão de como se tratam as pedras, podemos dividir os tratamentos em duas abordagens diferentes.

 

A abordagem conservadora baseia-se em medidas gerais e medicamentos.

 

A outra abordagem, designada de ativa, compreende tratamentos que visam destruir ou remover a pedra. Genericamente são minimamente invasivos e assentam em tecnologia extremamente evoluída.

 

O tratamento da cólica renal tem como objetivo a expulsão da pedra e o alívio da dor. Curiosamente, nesta fase beber muitos líquidos é contraproducente. A ingestão regrada de líquidos, os anti-inflamatórios e medicamentos que relaxam o aparelho urinário, permitem a resolução da maioria das situações.

 

Se o tratamento conservador não for bem-sucedido, se a situação clínica se agravar ou se por outros motivos for necessária uma rápida resolução da cólica renal, existem diversas abordagens ativas para a resolução deste problema. O tratamento ativo tem como objetivo destruir e/ou remover as pedras. Na maioria das situações os tratamentos quer sejam cirúrgicos ou não podem ser realizados sem internamento ou com internamento de curta duração (uma noite). Mais uma vez, a escolha do tratamento mais adequado depende de vários fatores, tais como a dimensão da pedra, a sua localização e constituição e problemas de saúde do doente.

 

Tratamento de doentes com pedra dos rins, mas sem sintomas

 

A primeira grande diferença, em relação ao tópico anterior, é que as decisões podem ser tomadas com mais tranquilidade. Vejamos os seguintes exemplos:

 

  • Nem todas as pedras necessitam de ser tratadas. Imaginemos uma mulher, com cerca de 60 anos de idade, que tem uma pedra do rim de 4 mm. Provavelmente, não irá formar outra pedra e a que existe não irá causar qualquer problema. Assim sendo, não necessita de tratamento.

 

  • No outro extremo temos uma situação, que tive de operar há alguns anos. Tratava-se de um piloto de aviação comercial, com cerca de 40 anos, e que tinha uma pedra de 1mm no rim esquerdo. Apesar de aparentemente inofensiva, o piloto não podia assinar um novo contrato de trabalho, devido à presença desta pedra.

 

Estes dois exemplos demonstram que a decisão de se tratarem as pedras do rim, depende de múltiplos fatores. Clínicos, profissionais, sociais, etc..

 

O mais importante nesta decisão é discutir as opções com um urologista que seja experiente em todas as diferentes técnicas, que as tenha disponíveis, que seja sensato e que explique todas as implicações de não tratar ou dos diferentes tratamentos.

 

Mas pode-se evitar as pedras do rim?

 

Sim. Mas a primeira questão a colocar é quem é que se deve preocupar em prevenir o aparecimento de pedras do rim. Se 5 a 10% das pessoas irá formar uma pedra ao longo da vida, apenas uma pequena fração irá formar vários pedras. É esta pequena fração de doentes que se tem de preocupar, verdadeiramente, com a prevenção.

 

Vários fatores podem contribuir para um risco acrescido, tais como o excesso de peso, já ter tido cólica renal anteriormente, o aparecimento de pedras numa idade mais jovem, e a existência de doenças que favorecem a formação de pedras.

 

A ingestão abundante de água, de forma faseada ao longo do dia, e uma alimentação equilibrada rica em vegetais e fruta constituem a base da prevenção.

 

Medidas mais específicas deverão ser tomadas de acordo com o tipo de pedra e problemas de saúde associados. Para a elaboração desta abordagem é necessária uma visão multidisciplinar, com uma equipa-base composta por urologia, nefrologia, endocrinologia, radiologia e nutrição.

 

A pedra do rim é, provavelmente, a doença urológica que requer maior interação entre diferentes especialidades médicas e departamentos hospitalares.

 

Um desfecho feliz depende de uma enorme coordenação e dedicação, que começa no serviço de urgência e se completa com uma experiente equipa de diversas especialidades.