É frequente ouvirmos esta expressão popular, nomeadamente quando passamos por um evento de vida menos favorável, mas qual a veracidade desta afirmação?
No que respeita às crianças e jovens, quando expostos a eventos de vida adversos, os chamados traumas, a adequação desta sentença é em tudo questionável.
Conhecemos dois tipos principais de eventos traumáticos:
- Agudo: acontecimento a curto prazo, inesperado e isolado
- Crónico: situação de longa data e, geralmente, de intenção humana, podendo levar a uma visão alterada de si e do mundo, aumentando a probabilidade de originar problemas interpessoais prolongados.
Apesar da ideia preestabelecida relativa à raridade destes eventos, os estudos epidemiológicos são concordantes no que respeita à sua elevada frequência (ex: abuso físico, abuso sexual, divórcio/separação parental, psicopatologia parental/abuso de substâncias) e na sua concomitância (tendem a ocorrer em conjunto na vida de um mesmo indivíduo).
De acordo com os dados obtidos, quanto maior o número de eventos adversos experienciados pela criança/jovem no decorrer do seu desenvolvimento, mais frequentes são as consequências orgânicas, por exposição prolongada a stress hormonal, e psicopatológicas:
- Existe uma associação sustentada entre o trauma precoce e comportamentos de abuso de substâncias, bem como comportamentos sexuais de risco na idade adulta;
- AVC, enfartes agudos do miocárdio, diabetes, neoplasias e doenças sexualmente transmissíveis são mais frequentemente encontrados nestes indivíduos, em provável relação com os maus hábitos de vida por estes adotados;
- A incidência de psicopatologia na idade jovem/adulta, como depressão, ansiedade e perturbação de stress pós-traumático, é particularmente alta neste grupo;
- O risco de cometer suicídio ao longo da vida está diretamente relacionado com o número de eventos adversos experienciados (ex: nº>6 representa um risco suicidário de 3000% comparativamente a uma população n=0);
- A performance académica é outra das áreas comprometidas, conduzindo a adultos com salários mais baixos e profissões menos diferenciadas;
(In “About Adverse Childhood Experiences”, www.CDC.gov)
Baseado na gravidade destes dados, surge o conceito de crescimento pós-traumático, fazendo referência a uma mudança positiva que o indivíduo experimenta, como resultado de um processo de luta que empreende a partir da vivência de um acontecimento traumático (Calhoun & Tedeschi, 1999, pp.11).
É um processo complexo, em que os benefícios e aprendizagens assentam nas melhorias das relações interpessoais e na perceção de si mesmo e do outro (Linley & Joseph, 2004).
Este modelo, que engloba acompanhamento psicológico e psiquiátrico, apresenta-se como uma resposta terapêutica para estas crianças e jovens, a fim de minimizar o sofrimento atual e futuro e, como tal, conduzir a uma vida adulta mais satisfatória, quer a nível pessoal, como relacional ou académico.