O pé plano, vulgarmente chamado de “pé raso” ou “pé chato”, é uma patologia frequente tanto em adultos como em crianças.
Pé plano na criança
Todas as crianças nascem com pés planos e assim permanecem até cerca dos 9 anos. Na maioria dos casos são pés planos valgos flexíveis, que ocorrem devido à falta de maturação do colagénio, proteína presente nos ligamentos. É inútil o uso de palmilhas ou botas ortopédicas para a sua correção. Frequentemente a arcada plantar forma-se de forma natural até ao início da adolescência.
Se, entre os 10-13 anos, a criança mantiver pés planos, então deve ser observada em consulta especializada de Pé/Tornozelo. Nesta fase da infância, a sua correção cirúrgica é relativamente fácil e com excelente prognóstico – Operação de calcâneo stop – com a colocação de 1 parafuso, o qual se remove ao final de 24 meses, tempo necessário para que o normal desenvolvimento da criança forme a arcada do pé. É uma intervenção cirúrgica feita através de uma pequena incisão (cerca de 2cm), em regime de ambulatório, permitindo à criança deambular com apoio de canadianas no próprio dia da cirurgia (mesmo operando 1 ou os 2 pés), e com regresso à atividade desportiva sem limitações por volta dos 2 meses pós-operatórios. Em raros casos, o pé plano não é flexível, mas sim rígido, o que ocorre devido a uma malformação óssea com a presença de uma barra társica (união óssea ou fibrosa entre ossos do pé), a qual deve ser removida cirurgicamente para permitir um correto desenvolvimento dos pés da criança.
Pé plano no adulto
O pé plano nos adultos tem etiologia muito diferente do pé plano infantil, e normalmente ocorre devido à insuficiência do tendão tibial posterior, o principal e mais forte tendão presente no pé (excetuando o tendão de Aquiles, que é o tendão mais forte e potente de todo o corpo). Trata-se de um desgaste do próprio tendão que leva de forma progressiva à desorganização óssea de todo o retropé, causando dor progressiva e deformidade dos pés/tornozelos.
Numa fase inicial – grau 1 – o tratamento passa por anti-inflamatório, palmilhas e tratamentos de fisioterapia, para conforto do doente; já num grau 2, com a progressão da doença e das queixas de dor, começam a ter lugar procedimentos cirúrgicos para a sua correção. Nessa fase, é importante recorrer ao RX em carga e TC, para graduar a patologia; perante um grau 2 tem indicação para gestos de partes moles, como libertação do tendão tibial posterior e/ou osteotomia do calcâneo. Se ocorrer um processo degenerativo já com artrose de várias articulações do retropé – grau 3 – estão indicadas artrodeses (fusões ósseas) com placa/parafusos.
Por fim, na fase mais avançada da doença – grau 4 – a qual cursa com destruição completa de todas as articulações do retropé, incluindo o tornozelo, deve-se proceder a panartrodese.
É de salientar que todos estes procedimentos devem ser bem ponderados e discutidos com o doente, em consulta especializada de Pé/Tornozelo, para o sucesso da cirurgia, permitindo ao doente ganhar qualidade de vida, permanecer sem dor ao caminhar e viver sem limitações.